As declarações de Jorge Jesus, treinador, e João Gabriel, diretor de comunicação, apresentadas em «A Bola» são duas peças
que ajudam a compreender a fase que o Benfica atravessa.
Na primeira, em forma de entrevista, o treinador passa três mensagens: não vai para o F.C. Porto (sendo que o campeão nunca disse que o desejava), cometeu alguns lapsos (poucos, parece...) e não houvesse erros dos árbitros o Benfica teria festejado o título na Luz.
Na segunda, também em forma de entrevista, o diretor de comunicação preocupa-se em passar duas mensagens: os que gritam contra Vieira e Jesus estão a ser instrumentalizados (chega ao ponto de lembrar Vale e Azevedo, pobre dele, a viver dificuldades em Londres) e os árbitros deram o título ao F.C. Porto.
As duas peças utilizam a desculpa da arbitragem para justificar mais um título perdido para o F.C. Porto.
Este argumento é tão velho como os campeonatos. E por ser tão velho, estaria gasto não fosse dar-se o caso de haver adeptos que gostam de discutir futebol a partir dos equívocos de quem apita. Ou seja, este discurso, em parte, funciona.
Apesar de, na verdade, o Benfica não ter razão.
Os árbitros são, em grande parte, os mesmos da época em que o Benfica foi campeão, um detalhe. E nessa altura não pareciam assim tão incompetentes. Mas isso nem é o mais relevante.
Uma década depois, o líder do Benfica festejou apenas dois títulos. O que faz de Luís Filipe Vieira um espectador bastante frequente do sucesso alheio. A acreditar na tese, o presidente dos «encarnados» deveria ter lugar no guiness como o dirigente desportivo mais prejudicado pela arbitragem. Provavelmente a par de alguém do Sporting.
Mas o Benfica não perde mais do que o F.C. Porto por causa dos árbitros. Acontece que tem sido menos capaz, vista a coisa de diferentes ângulos. Tem escolhido quase sempre pior, de treinadores a jogadores. É a história e a história não se reescreve.
Este discurso dos responsáveis do Benfica parece bastante agressivo e destinado a marcar uma posição sólida, de clube grande que de facto é. Mas na prática nada sucede. Como em todo os defesos, o Benfica irá de férias sem que lhe seja conhecida uma ideia de fundo para o futebol português, algo que ajude a melhorar. E regressará, como sempre, eufórico com o título de campeão do mercado.
Na verdade, este discurso não procura marcar pontos junto dos árbitros, de quem os nomeia ou sequer da Liga ou da Federação. Este é um tipo de conversa que aponta apenas numa direção: os sócios. Até pode funcionar, no sentido em que funcionar pode ser sinónimo de convencer.
No entanto, é evidente que não será com declarações num jornal que o Benfica alterará seja o que for. O problema do clube é de estrutura, de competência e de garra.
Basta olhar para os dois títulos que conquistou na última década. Eles foram obtidos palavra a palavra, treino a treino, conferência a conferência, jogada a jogada. Lances dentro e fora do relvado. Não foi bonito? Se bem me lembro, não. Mas o Benfica venceu.
No fundo, se me perguntarem, acho que os responsáveis do clube ficaram convencidos, algures a meio do caminho, de que, de alguma forma, a distância para o F.C. Porto estava anulada. E isso contribuiu, muito, para o desfecho dos dois últimos campeonatos.
É provável que as próximas declarações em forma de entrevista sejam de Luís Filipe Vieira. Outra vez a lembrar casos de arbitragem, outra vez a tocar na mesma mensagem, outra vez a falar para quem se revê neste discurso. E é também provável que isso seja suficiente para mais um início de temporada tranquilo e esperançoso. Se calhar até justo, se recordarmos o que era o Benfica de Vale e Azevedo. E até o de Damásio.
Para ganhar é que se torna necessário muito mais do que um ou dois títulos de jornal.
Na primeira, em forma de entrevista, o treinador passa três mensagens: não vai para o F.C. Porto (sendo que o campeão nunca disse que o desejava), cometeu alguns lapsos (poucos, parece...) e não houvesse erros dos árbitros o Benfica teria festejado o título na Luz.
Na segunda, também em forma de entrevista, o diretor de comunicação preocupa-se em passar duas mensagens: os que gritam contra Vieira e Jesus estão a ser instrumentalizados (chega ao ponto de lembrar Vale e Azevedo, pobre dele, a viver dificuldades em Londres) e os árbitros deram o título ao F.C. Porto.
As duas peças utilizam a desculpa da arbitragem para justificar mais um título perdido para o F.C. Porto.
Este argumento é tão velho como os campeonatos. E por ser tão velho, estaria gasto não fosse dar-se o caso de haver adeptos que gostam de discutir futebol a partir dos equívocos de quem apita. Ou seja, este discurso, em parte, funciona.
Apesar de, na verdade, o Benfica não ter razão.
Os árbitros são, em grande parte, os mesmos da época em que o Benfica foi campeão, um detalhe. E nessa altura não pareciam assim tão incompetentes. Mas isso nem é o mais relevante.
Uma década depois, o líder do Benfica festejou apenas dois títulos. O que faz de Luís Filipe Vieira um espectador bastante frequente do sucesso alheio. A acreditar na tese, o presidente dos «encarnados» deveria ter lugar no guiness como o dirigente desportivo mais prejudicado pela arbitragem. Provavelmente a par de alguém do Sporting.
Mas o Benfica não perde mais do que o F.C. Porto por causa dos árbitros. Acontece que tem sido menos capaz, vista a coisa de diferentes ângulos. Tem escolhido quase sempre pior, de treinadores a jogadores. É a história e a história não se reescreve.
Este discurso dos responsáveis do Benfica parece bastante agressivo e destinado a marcar uma posição sólida, de clube grande que de facto é. Mas na prática nada sucede. Como em todo os defesos, o Benfica irá de férias sem que lhe seja conhecida uma ideia de fundo para o futebol português, algo que ajude a melhorar. E regressará, como sempre, eufórico com o título de campeão do mercado.
Na verdade, este discurso não procura marcar pontos junto dos árbitros, de quem os nomeia ou sequer da Liga ou da Federação. Este é um tipo de conversa que aponta apenas numa direção: os sócios. Até pode funcionar, no sentido em que funcionar pode ser sinónimo de convencer.
No entanto, é evidente que não será com declarações num jornal que o Benfica alterará seja o que for. O problema do clube é de estrutura, de competência e de garra.
Basta olhar para os dois títulos que conquistou na última década. Eles foram obtidos palavra a palavra, treino a treino, conferência a conferência, jogada a jogada. Lances dentro e fora do relvado. Não foi bonito? Se bem me lembro, não. Mas o Benfica venceu.
No fundo, se me perguntarem, acho que os responsáveis do clube ficaram convencidos, algures a meio do caminho, de que, de alguma forma, a distância para o F.C. Porto estava anulada. E isso contribuiu, muito, para o desfecho dos dois últimos campeonatos.
É provável que as próximas declarações em forma de entrevista sejam de Luís Filipe Vieira. Outra vez a lembrar casos de arbitragem, outra vez a tocar na mesma mensagem, outra vez a falar para quem se revê neste discurso. E é também provável que isso seja suficiente para mais um início de temporada tranquilo e esperançoso. Se calhar até justo, se recordarmos o que era o Benfica de Vale e Azevedo. E até o de Damásio.
Para ganhar é que se torna necessário muito mais do que um ou dois títulos de jornal.
in "maisfutebol.iol.pt", por Luis Sobral
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