Demasiado mau para ser campeão

O que aconteceu na primeira parte do FC Porto-Académica, e em vários pedaços da segunda, seria considerado misterioso se não se tratasse de um autêntico absurdo. Uma equipa que depois de uma vitória categórica em casa do maior rival faz o que fez diante da Briosa só pode ser considerada incompetente e egoísta. Incompetente porque não soube rentabilizar o capital de confiança acrescida trazido da Luz; egoísta porque teve elementos cuja displicência foi razão de sobra para despedimento com justa causa.
As insondáveis exibições deste FC Porto 2011/12 são pedaços de História que a própria História um dia dissecará. O que sei é que, tanto quanto me lembro, não me recordo capaz de um FC Porto capaz do melhor e do pior tão repetidas vezes e em tão curto espaço de tempo. O que pressagia o pior. Porque um campeão faz-se, precisamente, de regularidade e, como por aqui já escrevi há uns meses, até agora não temos sido os melhores, mas os menos maus.
E sinceramente, meus caros, entre ver um FC Porto de coração nas mãos até ao fim da época ao invés de um FC Porto categórico, como o foi o do jogo frente ao Benfica, prefiro que seja campeão o SC Braga. Não fui acostumado a isto enquanto adepto portista. Se calhar fui sendo, tal como vocês, mal habituado ao longo dos tempos. E ainda bem: aprendi (aprendemos) que as conquistas do FC Porto fazem-se de cultura de exigência e de espírito de superação, algo que não reconheço a boa parte do actual plantel.
Ora, isto não quer dizer que as coisas podem, e devem, mudar até ao fim da Liga Sagres. Provavelmente é o meu coração azul e branco a falar (o mesmo que repetiu que ainda havia esperança de dar a volta às coisas quando perdíamos 0-4 com o Manchester City a poucos minutos do fim), o mesmo que acredita sempre, o mesmo que vive perto da boca na hora de a emoção superar tudo o resto. A questão é que a razão também anda por aqui e, não tão poucas vezes como isso, trata de espalhar pelo chão todas as brasas incandescentes que o coração teima não apagar.