terça-feira, 1 de novembro de 2011

Alguns do que já foram mas que sempre ficarão

Porque hoje, 1 de Novembro é, supostamente, o dia em que devemos honrar a memória dos que já partiram, hipócrita é quem não a honra todos os dias, deixem-me recordar alguns dos que marcaram a História do FC Porto de tal forma que se revelaram no direito de se tornarem imortais.

José Maria Pedroto. Pouco há a acrescentar ao que os livros e os relatos do que lhe testemunharam a vida já disseram. Eu, que era criança quando partiu, apenas posso referir que foi privilégio o FC Porto beber da inteligência de alguém que viveu à frente do seu tempo. Além dele, apenas outros dois nomes ligados ao FCP souberam que o tempo que viviam estava num futuro que não era acompanhado pelos demais: Jorge Nuno Pinto da Costa e José Mourinho.

Hernâni. Ouvi alguém que o viu jogar dizer que Figo era vulgar quando comparado com a classe do ‘nosso’ Hernâni, o homem que fazia das alas a sua casa e dos laterais os carrascos que conseguia evitar com mestria. Nunca foi reconhecido devidamente e a razão é simples: porque foi do FC Porto e porque em Portugal tudo o que foge à convenção encarnada não é digno de registo. E também porque nós, mea culpa, ainda não fizemos o esforço suficiente para interpretar e valorizar o passado pré Pinto da Costa.

Miguel Arcanjo. Jogador da geração de Hernâni, recordo-o aqui porque acasos da vida me fizeram, ainda criança e pré-adolescente, conviver com ele e ouvir-lhe histórias deliciosas contadas na primeira pessoa. Miguel Arcanjo parava frequentemente num café próximo do Lima 5. Lia o jornal sozinho numa mesa e o meu pai interpelou-o, certa manhã, perguntando-lhe se era quem ele estava a pensar. Disse que sim e convidou-nos para sentar na sua mesa. E assim ficou nossa essa mesa durante tantos sábados seguintes. Poucos anos mais tarde encontrei-o a trabalhar num stand de automóveis na rua Alfredo Cunha, bem perto do antigo hospital de Matosinhos. Reconheceu-me e mais uma vez fez minha a cadeira que estendeu para me sentar. Saía das aulas na Escola Preparatória e ia ouvi-lo, deliciado. Com ele aprendi o que o futebol tem de belo, simples e solidário. E como o valor de um sorriso é o melhor presente da memória.

Rui Filipe: Não figura, certamente, na lista dos melhores de sempre do FC Porto, mas a sua abnegação em campo é o melhor retrato do que representa carregar o emblema dragão dentro das quatro linhas. A sua morte chocou-me numa manhã de domingo. Vi o seu último golo, o primeiro do célebre penta, e ainda o hoje tenho bem presente. Baliza da superior norte, remate de fora de área, guarda-redes do SC Braga estirado, bola encostada ao poste e anichada depois nas redes. Quarta-feira seguinte houve jogo para a Supertaça, então a duas mãos, na Luz, onde Rui Filipe executou um chapéu de mestre a Preud’Homme, sentando-o, literalmente, e viu um amarelo que o deixou de fora do próximo jogo, com o Beira-Mar, fora, a contar para o campeonato. Folgou e deu-se o acidente fatal, o tal que matou alguém que soube como poucos carregar o espírito FC Porto dentro dele.

Zé Beto: Diz a lenda que um dia chegou ao treino de cavalo. Dizem os meus olhos que era tolo o suficiente para sair da baliza disparado e aliviar de cabeça à saída da área uma bola que estava perfeitamente ao alcance dos centrais. Dizem os registos que era louco capaz de bater num juiz de linha – árbitro assistente é neologismo maricas, diga-se – que fez parte de equipa de arbitragem que gamou forte e feio o FCP numa final europeia. Diz a realidade que morreu num acidente estúpido. E diz o destino que a sua morte permitiu a chegada ao FC Porto de um senhor chamado… Mlynarczyk.

PS: se não ganharmos hoje ao APOEL, poderemos dizer que entramos para a galeria negra das vergonhas na Champions. Mas como sei que isso não vai acontecer, considerem a frase anterior um simples desabafo de alguém que gosta de ser pessimista para depois saborear mais e melhor ainda os bons momentos.

Pedro Emanuel Santos

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