sexta-feira, 30 de julho de 2010

Como é que é?


Walter Casagrande Júnior esteve cá em Portugal apenas por seis meses mas foi o suficiente para todos se recordarem dele. Aterrou como uma estrela brasileira, com passagens pelo Corinthians e pelo São Paulo, e veio a tempo de se sagrar campeão europeu pelo FC Porto em 1987. Mesmo com aquele feitiozinho difícil e os vícios alimentados em horários fora do expediente, Casagrande deixou uma marca. Agora, 23 anos depois, chega o segundo Walter à casa portista. Walter Henrique da Silva, avançado de 21 anos, internacional sub-20 brasileiro, é o último reforço do FC Porto - custou 6 milhões de euros e pôs os dragões na liderança do mercado português [ver quadro ao lado] E vem do Internacional de Portalegre. Ou será do Club Atlético Rentistas? Ou dos dois? Bom, é que Walter Henrique da Silva sempre jogou pelo Internacional desde 2007 e nunca pelo Rentistas. Porquê a confusão? Puxemos do comunicado enviado à CMVM: "A Futebol Clube do Porto - Futebol, SAD vem comunicar, nos termos [...] ter chegado a um acordo com o Club Atlético Rentistas, para a cedência definitiva dos direitos de inscrição desportiva do jogador Walter."

Isto não é novo: já tinha acontecido com Hulk, que nunca tinha calçado pelo Rentistas mas ao qual o FC Porto pagou para o resgatar ao Tokyo Verdy do Japão. E, nos anos 80, foi assim que Paulo Silva e Rodolfo Rodríguez entraram em Alvalade. A explicação é simples: todos estes negócios mencionados (os Walter, Hulk, Silva e Rodríguez) foram intermediados por Juan Figger, um empresário FIFA do Uruguai já investigado pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da CBF (Federação Brasileira) por causa de um esquema de fuga aos impostos em transacções que envolviam jogadores brasileiros e clubes uruguaios. O Rentistas, pois, é apenas um pousio, um armazém fictício. Tal como o é o Central Español, outro emblema menor do Uruguai. O esquema, segundo a Comissão Parlamentar, é este: Figger descobre jovens brasileiros ao Rentistas que os compra por tuta-e-meia; depois, emprestam-nos para se valorizarem e serem vendidos para a Europa como trutas. Tudo feito fugindo à cobrança de imposto. Houve futebolistas famosos envolvidos na trapaça: Lucas Severino, quando saiu do Atlético Paraenense para o Rennes de França; Zé Roberto, quando trocou a Portuguesa dos Desportos pelo Real Madrid.

As suspeitas da CPI nunca foram provadas e Juan Figger foi-se mantendo no topo do futebol: representa ou representou tipos como Valdívia, Kaká, Robinho, Fábio Aurélio, Júlio Baptista ou Zé Roberto. E Walter, pois, que já marca nos treinos de pré-época no Olival.

BAD BOY? Walter Henrique da Silva nasceu no Recife a 22 de Julho de 1989, pelo que festejou o 21.o aniversário na Invicta onde esteve "escondido" durante 12 dias até a complicada negociação chegar a bom... Porto. Enquanto a sua situação não ficava definida, Walter viveu recluso num hotel definido pelo FC Porto e as instalações da SAD portista, a ver se caía alguma novidade sobre a mesa. Ontem, com tudo tratadinho, Walter lá fez uma perninha nos treinos do Olival - marcou dois golos e andou sempre na companhia de Fernando e de Hulk. Futebolisticamente, o FC Porto arranjou outro potente avançado, rápido e lutador. Pessoalmente, dá ares de Bad Boy, um miúdo que por vezes se arma em vedeta. Não somos nós quem o diz mas um antigo colega do Internacional, velho conhecido cá de Portugal: Alecsandro, ex-Sporting. "Há por aí jogadores jovens que marcam dois ou três, são endeusados pela imprensa e já se ficam julgando especiais. O Walter podia estar nos ajudando numa meia-final da Libertadores. Se ele não está bem preparado, vai dar ouvidos a certas coisas e aí se complica", disse Alecsandro.

A carreira de Walter no Internacional (sim, no Internacional e não no Rentistas) teve altos e baixos. Entrou bem, com três golos no campeonato Gaúcho, mas uma lesão levou-o para a mesa de operações. Regressou, depois, à equipa B para ganhar forma e chegou a ser inscrito pelo Internacional na Taça dos Libertadores. Só que Walter era uma cabeça dura e desentendeu-se com os líderes do emblema: deixou de ir aos treinos e foi despromovido ao lado B quando decidiu regressar. Desta vez, é Bigorna, como lhe chamam, que precisa de moldar-se.

in ionline.pt

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