terça-feira, 4 de outubro de 2011

Que tenha servido de lição

A última semana e meia foi de pesadelo para o FC Porto, disseram muitos por aí. Dois empates, com Feirense e Benfica, e uma derrota frente ao Zenit colocaram os corações azuis e brancos em sobressalto. Como sempre sucede quando as coisas correm mal, houve que apontar um culpado. E esse foi o alvo mais fácil e mais à mão nos momentos em que os resultados não são os desejáveis: o treinador.
Vítor Pereira sofreu uma perseguição inverosímil, ridícula e, sobretudo, injusta. Que era fraco tacticamente, que não sabia mexer na equipa, que as suas substituições soavam a ridículas, que não tem estaleca para um barco como o FCP, que foi solução de recurso porque Villas Boas saiu à pressa, que tinha os dias contados e Pedro Emanuel já estava a caminho, que Rui Faria também era hipótese e estava pronto a deixar Madrid, que isto, que aquilo, que tudo. Se tais atoardas tivessem sido proferidas por sectores há muito conotados com a Segunda Circular não me surpreendia e até o esperava. Mas o incrível de tudo é que 99,9 por cento das piores críticas a Vítor Pereira partiram de assumidos adeptos do FC Porto. E isso dói.
Dói porque nós não somos como águias e lagartos, que massacram os seus técnicos quando estes dão as primeiras escorregadelas – não é por acaso que uns e outros são conhecidos por serem cemitérios de treinadores. Dói porque Vítor Pereira não desceu tão baixo para ser crucificado com foi. Dói porque demos os mesmos tiros nos pés que tantas vezes aplaudimos aos nossos rivais. Dói mais ainda porque retiramos o tapete da confiança a um homem que já demonstrou ter rédea bem estudada para saber controlar os cavalos mais perigosos, ou será que já foi esquecido como Europa fora o FC Porto foi elogiado por ter conseguido anular o Barcelona de uma forma que mais nenhuma equipa o conseguiu desde que Guardiola assumiu os blaugrana?
Pode questionar-se se Vítor Pereira esteve mal ao não colocar Walter mais cedo na ausência de Kléber? Claro que sim. Mas também é preciso ser intelectualmente honesto e puxar o filme da memória atrás para recordar que Walter também não foi opção para André Villas Boas no período em que Falcao menos jogou a temporada passada, entre Dezembro e meados de Fevereiro (já agora, um doce para quem souber à primeira o trio de avançados no jogo do Dragão em que o FCP foi derrotado 0-2 pelo Benfica a contar para a primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal). Ou que FCP dos primeiros tempos do moço agora do Chelsea tinha tanto de instável como de espectacular. Ou ainda como foi preciso aguardar pela veia goleadora de Falcao, que apenas surgiu a partir de Outubro, para que a respiração deixasse de ser tão ofegante e os resultados fluíssem com mais tranquilidade. Ou que foi preciso o Benfica ter o pior início de campeonato em mais de 50 anos para o FCP poder cavar um fosso de nove pontos logo às primeiras jornadas? Ou que o Sporting desde cedo mostrou sinais de estar no caminho na desgraça e o Braga demonstrava não conciliar campeonato e competições europeias? Ou que o FCP tem este ano na Champions adversários indubitavelmente mais complexos dos que os que encontrou na fase de grupos da Liga Europa?
Já agora, recorde-se também que quem Villas Boas procurava sempre em momentos de maior aflição era o homem que estava imediatamente sentado a seu lado no banco. Esse mesmo, o tal que agora é apontado o dedo por tantos e a que poucos dão, sequer, o benefício da dúvida.
Como no negativo há sempre que retirar algo de positivo, tenhamos, pelo menos, aprendido algo com que se passou e não repitamos o erro outra vez. Seja com Vítor Pereira, seja com qualquer outro treinador que nos venha a servir no futuro. Porque ser dragão é, também, apoiar o treinador, particularmente nos momentos mais delicados. Sim, que os verdadeiros dragões são os que estão com a equipa nos momentos em que a maioria lhe vira as costas.
PS: Os que agora desesperam com Vítor Pereira que me expliquem como não se suicidaram quando levaram com figuras, e só vou falar de um passado relativamente recente, como Octávio Machado, José Couceiro, Co Adriaanse ou até mesmo Jesualdo Ferreira. Mas expliquem-me como se eu tivesse cinco anos, por favor.

5 comentários:

  1. ò Pedro, nos 0-2 para quem não se lembrar cá fica o 11:
    FC Porto:
    Helton; Sapunaru, Maicon, Rolando e Sereno, Moutinho, Fernando e Belluschi, Varela, Hulk e James

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  2. Olá Pedro. Entendo que queiras defender o treinador, mas não posso concordar contigo. Mas o tempo dará razão a um ou a outro.:) Vamos só entender que qualquer coisa que seja abaixo de campeão e 1/8 da CL é ano deitado fora. Quanto aos outros treinadores: Octávio foi corrido, para entrar o Mourinho, senão ia sair de maca; Couceiro foi um desgraçado que aceitou fazer o frete de acabar uma época terrível. Co Adriaanse fez a dobradinha, não entendo o que está a fazer neste saco, tinha uma disciplina que eu gosto e aprovo para uma equipa jovem como a nossa. Mais foi campeão e ganhou a Taça. Não me deixa saudades mas não foi negativo. Jesualdo já é um caso mais bicudo. Foi o treinador que mais campeonatos ganhou, tinha postura e imagem e não sofria contestação dentro do grupo. Por outro lado, tinha o problema das diarreias mentais aquando dos jogos da CL, que me levavam ao desespero. Mas também é de justiça lembrar que teve o azar do túnel e do contratado Ricardo Costa, que lhe destruiu o lado esquerdo da equipa durante meses (ainda não perdemos para o campeonato desde que o Hulk voltou a jogar).
    No entanto, nenhum destes treinadores teve a papa toda pronta como VP. Esta equipa está rotinada e entrosada, faltando um PL, que para mim basta que estorve os centrais para facturar.
    O meu grande medo parece ser o mesmo que o do VP: "...espero é não estragar o que tenho em mãos...".

    Abraço e que a paragem seja benéfica.

    GRossi

    PS: parabéns pelo artigo.

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  3. Amigo Pedro, é a sua opinião, que eu respeito muito, e, que, em certos aspectos concordo e naturalmente em outros não.

    Sou contra a critica facil, e contra aqueles que têm a memoria curta e se esquecem quem foi o Vitor Pereira na epoca passada.

    Quanto as criticas algumas, sou a favor e eu proprio fiz algumas, não frente à vermelhada, mas quando conversava com amigos da nossa cor, pois VP cometeu erros de palmatória e infantis em termos de substituiçoes, que infelizmente nos custaram 4 pontos, nos 2 empates que tivemos.

    Prefiro que critiquem o treinador do que os jogadores, um bom treinador já sabe que as coisas funcionam assim e tem que ter as costas largas, mesmo que não tenha as culpas a 100%, assim os jogadores trabalham tranquilos, ajudam-nos e ficam com vontade de o ajudar ainda mais a cada critica que lhe é feita, pois se forem dirigidas aos jogadores, este aamuam como criancinhas e está o caldo entornado...

    Estamos habituados a que nos crucifiquem à minima falha, mas eles esquecem-se que isso só nos fortalece.

    ESTE É O NOSSO DESTINO

    Grande Abraço

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  4. Boas simplesmente quero deixar uma nota, concordo com algumas das coisas k aqui foram escritas com outras nem tanto. O Porto versão 2011/2012 é o mesmo de 2010/2011, tirando um elemento, Falcao.
    O que mudou na estrutura, para existirem tantas diferenças de um ano para o outro? onde está a alegria que a equipa tinha em campo? O que se passa com os jogadores que jogavam entre si sem terem necessidade de olharem uns para os outros? O que aconteceu aos mecanismos que tinham na época transacta? Um bom treinador é aquele que mesmo a vencer, tem sempre fome de mais e não aquele que entra e termina a defender, não sei bem o que... O bom treinador é aquele que nos maus momentos assume a inteira responsabilidade e que nos bons a reivindica a mesma apenas para os seus jogadores e não o que sacude a água do capote para cima da equipa...
    Espero que tenhas razão. Mas se não formos nós a exigir o céu à nossa equipa quem o fará?

    SOMOS E SEMPRE SEREMOS PORTO

    Grande Abraço

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  5. Boas Pedro e restantes comentadores.

    Sim eu gosto de Vítor Pereira como tu pareces gostar. Acho que este momento não é exclusivamente culpa dele. Tem alguma, como é óbvio, mas não é o maior culpado.

    Tenho de deixar o meu desagrado em relação ao teu ultimo paragrafo.

    Jesualdo Ferreira?

    Amigo, é "só" o treinador Português que mais campeonatos (Seguidos) ganhou. Sim tinha os defeitos que já disse o GRossi "Por outro lado, tinha o problema das diarreias mentais aquando dos jogos da CL, que me levavam ao desespero" mas porra... Meter o homem no saco do Octávio ou Couceiro? Mesmo o Adriaanse não era assim tão mau...

    Jónatas Oliveira, bem vindo ao Blog :-)

    Estive na conversa com um jogador que não é do Porto mas que é da mesma liga. Ele explicou-me onde está a alegria de jogar que os nossos jogadores perderam. Nos Euros... Muitos esperavam sair e amuaram porque não foram à vida deles... Ganharam tudo o ano passado e queriam sair.E sabem que jogando bem ou mal acabam por sair para o ano e então estão a cagar para os jogos...

    Ele disse-me nomes óbvios como Rolando, Álvaro, Fernando e Guarin. Mas também outros menos óbvios como Sapunaru, Otamendi, James e Varela. Não me falou num importante e com muito mercado e que pela maneira que tenho visto a equipa jogar não me espantou. Hulk. Não quer sair. Fantástico não é? Isto faz toda a diferença, não a saída do Falcao...

    "Mas se não formos nós a exigir o céu à nossa equipa quem o fará?"

    Nem mais! Vamos exigir então, mas principalmente aos jogadores e depois ou antes dos jogos... Durante não assobiem nem reclamem... Parece que não é importante... Mas é e ajuda a empurrar para baixo... Se ja não tens vontade, menos ainda tens quando te assobiam...

    :-)

    Abraço

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