quinta-feira, 17 de maio de 2012

HISTÓRIAS DA CAROCHINHA


A BOLHA lá estava, inerte, em cima da arca de gelados da OLÁ. Como de costume, voltada para baixo. António tinha emigrado novo para França e ajudado por colegas da terra, arranjou emprego em Clermont-Ferrand, na fábrica da Michelin.
Trabalhava no duro. “Mas valia a pena senhor Lima, ganhava mais numa hora do que aqui numa semana”. Aos Domingos, em casa, juntava-se com os vizinhos onde escutava na Emissora Nacional o Artur Agostinho relatar os jogos da instituição. Havia sempre por lá o jornal A BOLHA. Servia para embrulhar a lancheira que levava para a fábrica com os restos do arroz de frango do almoço. Antes de entrar no turno da noite, desembrulhava cuidadosamente a lancheira e, enquanto comia, olhava enlevado o pasquim que trazia fotografias do Eusébio. Era um pedaço da Pátria que ali estava. Deus, Pátria, Autoridade.
Há dois anos teve que regressar. A fábrica entrou em recessão, reduziu o pessoal, acabou com os turnos, os mais velhos foram os primeiros a sair. As coisas, por cá, tinham mudado. Autoridade não há nenhuma, a Pátria está feita num bolo, e Deus já se duvida que exista, no mínimo deve estar distraído. Montou um café para a filha e o genro se entreterem, ajuda na cozinha, e nunca deixou de comprar o pasquim.
Olhei para o Editorial, onde o Vítor Serpa sorridente anunciava: “Excelente e oportuna entrevista de Vítor Pereira, hoje em A BOLA”. Confesso que fui levado! Na minha santa inocência pensava que era o “nosso” Vítor Pereira que, os pasquins do costume, o Correio Manhoso, o RASCOR, e claro, A BOLHA, tinham gozado com o facto de ter ido a Fátima cumprir uma promessa.
Virei o pasquim para a primeira página mas… “afinal havia outro”. Era o dos árbitros em mais uma “conversa em família”, como de costume, para lavar a imagem.
Profissionalização aqui, profissionalização acolá, “os programas desportivos é que tem a culpa”, não disse nada de jeito, vou poupar os meus amigos às 6-páginas-6 de banalidades mas não resisto a uma muito engraçada. Pergunta o Vítor ao outro Vítor:
- José Mourinho é o melhor treinador português de sempre. Eusébio ou Ronaldo como melhor jogador português de sempre. Quem é o melhor árbitro português de sempre?
- É muito difícil ser assim tão absolutista. Houve quatro árbitros que marcaram as suas gerações. Falo de Joaquim Campos, António Garrido, Carlos Valente, e de mim próprio. Todos estiveram em dois Mundiais.
???
Lá cuspi os restos do croissant para cima dos guardanapos onde estava a escrever este diálogo, engoli à pressa o café e corri para cá, para junto dos meus amigos. Não podia deixar de lhes dar a novidade. O homem tinha sido árbitro. Quem diria… E dos bons, disse ele! E eu a pensar que era um tratador de cãezinhos amestrados!
Amanhã há mais.
Nota da Redacção – Por absoluta falta de espaço não publicamos a listagem dos novos jogadores para a “instituição” anunciados diariamente na BOLHA.

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