terça-feira, 6 de agosto de 2013

Mas que grande trapalhada...

O Benfica não vendeu Roberto a um fundo de investimento, mas a uma empresa que tem como rosto o polémico proprietário do Saragoça, Agapito Iglesias. A misteriosa BE Plan, mencionada no Relatório e Contas do clube da Luz e no comunicado de esclarecimento solicitado pela CMVM, é uma sociedade de direito espanhol - confirmou o SOL numa consulta ao Boletim Oficial do Registo Mercantil do país vizinho.
Na verdade, não estão registadas uma nem duas, mas sim três sociedades comerciais com a designação BE Plan: a BE Plan Energia 1, a BE Plan Energia 2 e a BE Plan Energia 3. Todas têm como representante Agapito Iglesias e como administrador único o Grupo Diamante 2006, que por sua vez tem como administrador único Agapito Iglesias e como sócio único o Grupo Codesport, cujo proprietário é... Agapito Iglesias.

Boa parte das pontas soltas do ‘caso Roberto’ vai dar a esteempresário da construção civilque, em 2006, comprou o Saragoça por 12 milhões de euros, através da sociedade Zaragoza Sport Arena XXI. Esta mesma Zaragoza Sport Arena XXI tornou-se sócia única das ‘trigémeas’ BE Plan Energia pouco depois da transferência de Roberto do Benfica para o Saragoça, em Agosto de 2011.
Estão ‘ligadas por cordão umbilical’. Em comum, além de Agapito Iglesias e da morada - um 1.º andar de um edifício em Pozuelo de Alarcón, nos arredores de Madrid -, têm o facto de serem sociedades de responsabilidade limitada, o que quer dizer que, em caso de acumulação de prejuízos, os bens pessoais dos sócios ficarão sempre a salvo.
Agapito Iglesias usou-as para adquirir Roberto há dois anos. Uma vez que a SAD (Sociedade Anónima Desportiva) do Saragoça vivia mergulhada em dívidas e estava sob administração judicial, foi a forma encontrada para contornar o ‘garrote’ dos credores às contas do clube. Só assim se tornou possível assinar um acordo de 8,6 milhões de euros.

Dinheiro nunca entrou na Luz

Não se tratou, por isso, de um negócio com qualquer fundo de investimento mas com a ‘empresa mãe’ do Saragoça, como o SOL já havia adiantado em 2011, com base em fonte oficial da CMVM. O próprio Benfica, após o regulador do mercado bolsista ter suspendido as acções da SAD ‘encarnada’ e exigido esclarecimentos adicionais, veio informar que a transferência se formalizara por via de dois contratos: um com a SAD do Saragoça e outro com «uma sociedade de direito espanhol situada a um nível mais elevado da cadeia de domínio da Real Zaragoza SAD», que optou por não identificar.
Segundo apurou então o SOL junto da CMVM, a sociedade dominante ficou com a responsabilidade de pagar 99% da verba total, ou seja, 8,514 milhões de euros, enquanto à SAD do Saragoça cabia o restante um por cento. No entanto, ao fim deste tempo todo, o Benfica nem um cêntimo recebeu: todos os Relatórios e Contas apresentados desde então pelos ‘encarnados’ revelam que a dívida da BE Plan se manteve sempre inalterada, nos 8,514 milhões de euros. Sem tirar nem pôr.
O facto acaba por trazer à memória uma expressão de Pinto da Costa, que logo na altura se referiu ao dinheiro envolvido no negócio como «milhões da treta». O presidente do FC Porto parecia já desconfiar que o Sagaroça não iria ter capacidade para pagar aquele montante. Ou então custava-lhe a acreditar que, depois de uma época desastrada na Luz, um clube pudesse investir no guarda-redes espanhol uma quantia idêntica (em rigor eram mais 100 mil euros) à que o Benfica tinha gasto para o contratar ao Atlético de Madrid, um ano antes.
O próprio Benfica antecipou que poderia nunca vir a receber o dinheiro (a primeira tranche, como o SOL revelou na ocasião, só estava prevista entrar nos cofres da Luz um ano após a transferência). E acautelou-se, conforme deu conta à CMVM a 3 de Agosto de 2011. Em resposta a um pedido de esclarecimento sobre os contornos do acordo com o Saragoça, os ‘encarnados’ ressalvaram que este se encontrava «garantido, nomeadamente por títulos de crédito» - que na prática servem para precaver um eventual incumprimento. Cheques, livranças ou acções são exemplos de títulos de crédito, assim como pode ser um contrato a prever a recuperação dos direitos sobre um jogador se falhar o pagamento - e foi esta garantia que o Benfica executou para resgatar o guarda-redes.

CMVM baralhada

Mas o clube não prestou informação sobre este acto. E as campainhas soaram na CMVM quando, na sexta-feira, 26 de Julho, o Atlético de Madrid anunciou a compra de Roberto ao clube português. Depressa seguiu um pedido de esclarecimento para a Luz e, na terça-feira, o Benfica informava o mercado de que tinha recuperado os direitos sobre o guarda-redes por incumprimento da BE Plan. Acrescentava ainda que, a troco de seis milhões de euros, os tinha vendido ao Atlético de Madrid.
No dia a seguir entrava na CMVM outro comunicado do Benfica, dessa vez a anunciar a compra de 50% do passe de Pizzi ao Atlético de Madrid, por seis milhões de euros, o que veio baralhar ainda mais. Os mesmos clubes e a mesma quantia envolvidos. Neste comunicado não constava qualquer referência ao facto de a transferência poder estar relacionada com a de Roberto, mas um porta-voz do Benfica afirmou depois à agência noticiosa EFE, de Espanha, que «Pizzi e Roberto reportam-se à mesma operação».
Ou seja, o Benfica voltou a não receber dinheiro pelo guarda-redes, mas desta vez não ficou de mãos a abanar, pois garantiu 50% dos direitos sobre Pizzi – que assinou por cinco temporadas e nesta primeira jogará por empréstimo no Espanhol de Barcelona. Roberto também não ficará no Atlético de Madrid em 2013/14: foi cedido por um ano aos gregos do Olympiacos.
A CMVM, porém, não está convencida de que o mercado recebeu todas as informações necessárias sobre a forma como o processo decorreu. Fonte oficial da entidade bolsista disse ao SOL que a situação vai continuar a ser analisada, negando-se a adiantar mais detalhes.

Jorge Mendes e uma declaração enigmática

Há pelo menos duas pontas soltas que permanecem. Uma que já vem desde 2011 e outra nova. A primeira tem a ver com a existência ou não de um fundo de investimento por trás da transferência para o Saragoça – não da venda directa por parte do Benfica, mas como recurso utilizado pelo clube espanhol para garantir o guarda-redes. A segunda está relacionada com as últimas declarações de Roberto à rádio Cadena Ser: «Estive sempre vinculado ao Benfica desde que saí». Como é fácil de perceber, esta frase dita assim, sem mais explicações, não bate certo com a informação prestada pelo Benfica à CMVM.
Quanto ao fundo, as dúvidas foram criadas desde o primeiro dia por Agapito Iglesias. Ao anunciar a contratação de Roberto, o Saragoça passou a mensagem de que, a suportar a operação, estaria precisamente um fundo de investimento. «O senhor Agapito participa neste fundo, mas não queremos revelar mais nada porque não é normal fazê-lo. Devemos respeitar o direito à confidencialidade», declarou então um porta-voz do clube ao El País.
O jornal espanhol avançou que Jorge Mendes era o homem que controlava esse fundo (denominado Quality Sports Investment), numa parceria com Peter Kenyon, antigo director desportivo do Manchester United e do Chelsea. O advogado do empresário português desmentiu, garantindo que Mendes era um «mero consultor» do fundo e que nem o QSI nem outro fundo a ele associado havia tido qualquer intervenção na compra dos direitos económicos de Roberto.
Peter Kenyon assegurou o mesmo à revista escocesa Digger, que não conseguiu contactar nenhum representante do fundo porque está sedeado na Ilha de Jersey, uma offshore situada no Canal da Mancha.
Os fóruns de adeptos benfiquistas alimentam agora estes rumores, depois de Jorge Mendes ter voltado a entrar em cena para intermediar o negócio com o Atlético de Madrid, afastando Roberto de vez do Benfica: Pizzi, o jogador que serviu agora de “moeda de troca”, é representado por ele, e também é conhecida a relação próxima que mantém com o clube espanhol.

Um fundo sem dinheiro?

Toda esta linha de raciocínio, ainda assim, parece não encaixar neste puzzle. À luz do que hoje se sabe, a referência ao fundo pode não ter passado de uma manobra de diversão de Agapito Iglesias para fintar administradores judiciais, jogadores e adeptos do Saragoça. Ninguém percebia como é que um clube com uma dívida superior a 100 milhões de euros, 15 dos quais aos jogadores, podia investir 8,6 milhões num reforço.
Por outro lado, o Benfica resgatou Roberto à BE Plan, uma sociedade controlada pela empresa que detém a maioria do capital da SAD do Saragoça. E segundo o Relatório e Contas oficial não viu sequer a cor do dinheiro. Teria de ser um fundo sem fundos a estar por trás do Saragoça.
Importa também sublinhar que, para a CMVM, não é relevante se a entidade compradora é um fundo, uma empresa ou um clube - uma vez que tanto em Portugal como em Espanha, ao contrário do que acontece em Inglaterra, está contemplada essa possibilidade legal. O que é relevante para a CMVM é o grau de fiabilidade da informação prestada ao mercado e aos investidores. Foi por isso que as acções do Benfica chegaram a estar suspensas há dois anos e é por isso que agora ainda não está fechado o processo sobre os desenvolvimentos mais recentes.

In  sol.sapo.pt


Depois desta trapalhada toda, como é que é possível ainda haver otários que acreditam em alguma veracidade neste negocio e como é que é possível o clube da treta ainda não ter sido castigado e fortemente castigado pela CMVM? Fosse o nosso clube o interveniente nesta trapalhada e o resultado já estaria a ser bem diferente...

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