terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Abram as portas para os mestres

Agora que começou 2012 – o ano mal gatinha e já estão a dizer que vai ser pior que 2011 como quem diz a um recém-nascido que será um perigoso assassino quando crescer –, a água que me cresce na boca com sede de bola a sério ameaça corroer-me. Ainda por cima aproxima-se um jogo grande que está a ser preparado vai para três semanas porque os nossos profissionais de futebol, certamente mal pagos e sobrecarregados de jogos até à medula, foram de férias de Natal e regressaram gordos como chibos depois de se empanturrarem durante a quadra. Não estou a falar dos profissionais do FCP (o Walter não precisa de comer como um alarve no Natal para ser gordo, se bem que vi uma foto do Guarín que me assustou e daria uma bela promoção do Peso Pesado), estou a referir-me aos de todos os clubes da I Liga. Enquanto em Inglaterra as quatro jornadas do Boxing Day só agora terminaram, por cá parou-se e ponto. Mas os bifes é que são tolos e bêbados, nós, passivos e submissos, dedicamo-nos à família e deixamos que os que ganham milhares de euros façam o mesmo porque também são filhos de Deus.

Rabugice pós-natalícia à parte, fiquei contente de ver mais de 10 mil pessoas a assistir ao treino do FCP à porta aberta no Estádio do Dragão. Quanto mais não fosse porque recordei tempos não assim tão distantes em que 90 por cento dos aprontos (eis uma homenagem aos relatos radiofónicos da infância) tinham testemunhas no velhinho campo de treinos atrás do Estádio das Antas (junto ao Pavilhão B), onde tantas vezes tive o privilégio de ver os craques a dois palmos dos olhos e depois os acompanhei silencioso no final do treino até à porta do balneário, paredes meias com o Departamento de Futebol, e por eles esperei à saída enquanto os via entrar para os seus carros após satisfazerem a ânsia de autógrafos dos fãs. Eu nunca quis assinatura alguma, bastava-me segui-los com os olhos para, por breves momentos, sentir-me a marcar um golo de cabeça na baliza da Superior Sul, correr em direcção aos adeptos, subir a rede (como o Fernando Couto fez num célebre FCP-Marítimo que selou a conquista de um título nacional com 90 mil a assistir; pena foi que o tenha feito nas redes da Superior Norte, tivesse sido nas da Sul teria disparado do meu lugar na perpendicular da bandeirola de canto e atirado para o lado do relvado), dela descer e esperar o abraço dos companheiros de equipa (com os respectivos calduços do João Pinto e do André, claro). Bom, mas os tempos são outros. Aceito, mas não me conformo. E não deixa de ser bonito, admito, ver tanta gente no Dragão em dia de porta franqueada. Pode mesmo dizer-se que esteve mais gente ao Dragão no domingo do que em alguns jogos no Alvalade XXI. Ou que superou a média de três épocas consecutivas de jogos caseiros da União de Leiria, vá.

E como 2012 não podia começar sem o ridículo do costume, eis que Paulo Bento foi eleito pelo jornal ‘A Bola’ como a figura desportiva do ano 2011. Acho inteiramente justo. Afinal, ainda não foi o ano passado que duas equipas portuguesas conseguiram pela primeira vez jogar entre si a final de uma competição europeia. Nem houve um campeão invicto, um clube que conquistou todos os títulos internos, ou um jogador que se sagrou o melhor marcador de sempre da Liga Europa. Apurarmo-nos para o Europeu depois de jogar um playoff com a poderosa Bósnia-Herzegovina foi o climax. Está bem, compreendo o critério. Afinal, ‘A Bola’ só é vendida na Área Metropolitana de Lisboa e em todas as Casas do Benfica. Para quem tem palas nos olhos e recusa ver a realidade, a escolha até surpreendeu pela isenção ao não recair em alguém pertencente à agremiação encarnada.

Nota: Deixem-me ser anarquista e gritar que este artigo não respeita as regras do Acordo Ortográfico e que os próximos que aqui escrever também não respeitarão, por favor.

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